terça-feira, março 11, 2025
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Urânio em MG: passivo radioativo bilionário impede desmonte de planta

Estatal INB recebe licença para desmontar unidade de Poços de Caldas, mas antes tenta vender milhões de toneladas de material radioativo

A estatal INB (Indústrias Nucleares do Brasil) conseguiu obter a licença ambiental que aguardava desde meados da década de 1990 para fazer o desmonte da primeira unidade de exploração de urânio no Brasil, sua planta de Poços de Caldas.

A autorização dada pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) libera o chamado “descomissionamento” da mina, que teve exploração iniciada em 1982 e foi encerrada há 30 anos, em 1995. Ocorre que, para dar andamento ao processo de desmonte -que também levará algumas décadas-, a INB tem que se livrar de um passivo bilionário relacionado a milhões de toneladas de resídulo radioativo que está armazenado em Poços de Caldas.

Hoje, esse resídulo, conhecido como “torta 2”, está guardado em 19.600 tambores metálicos, cada um deles com 285 litros de produto. Há ainda outras 19.175 unidades de bombonas plásticas de 100 litros cada, todas lotadas com esse material.

A estimativa é que, se a estatal tivesse que fazer o tratamento de descarte desse produto, teria que desembolsar cerca de R$ 1,2 bilhões, recurso que hoje não possui em caixa.

Por isso, a estatal vinculada ao Ministério de Minas e Energia, está tentando vender o material a outros países que, eventualmente, tenham interesse em processar os minérios ali contidos. Um edital com a oferta foi publicado no ano passado, mas até agora não foi fechado negócio com nenhum comprador.

As informações foram confirmadas à reportagem pelo presidente da INB, Adauto Seixas. “Já recebemos visitas de equipes da Rússia, Índia, Canadá, França, China e Coreia do Sul. A China foi o país que demonstrou maior interesse, a conversa está evoluindo”, disse.

O fato é que, mais do que vender o produto, o desejo é se livrar do passivo ambiental bilionário. “Não estamos pensando em lucro. Se chegarmos a um acordo para a retirada desse material, já será o suficiente”, comentou Seixas.

O custo total para fazer o desmonte e a recuperação ambiental de toda a unidade já foi estimado pela INB em nada menos que US$ 500 milhões, o equivalente a R$ 3 bilhões em preços atuais. Mais recentemente, porém, a estatal revisou esse custo para baixo, devido à estratégia de vender o resíduo radioativo e de aprofundamento sobre o que é efetivamente necessário.

“O valor inicial de US$ 500 milhões foi estimado ainda durante o Plano de Gerenciamento para o Descomissionamento e Recuperação de Áreas Degradadas da UTM (PRAD), época em que o processo de descomissionamento ainda era muito conceitual, então foi considerado um valor mais conservador (mais alto). Com a evolução das ações e da maturidade do projeto, hoje se trabalha com essa estimativa de R$ 700 milhões”, declarou a estatal.

Segundo Adauto Seixas, o desmonte tem prazo estimado em algo entre 20 e 30 anos. Por isso, estudos de caracterização da unidade ainda estão em andamento, o que pode fazer com que esse preço oscile para mais ou menos.

Durante a operação da mina de urânio em Poços, foram extraídos e processados cerca de 2,3 milhões de toneladas de minério durante as operações. Aproximadamente 108,1 milhões de toneladas de estéril foram gerados e depositados em diversas áreas.

A torta 2 é resultado do processamento químico de areia monazítica da Usina Santo Amaro -antiga instalação da Nuclebrás, predecessora da INB-, entre as décadas de 1950 a 1990, e que foi levada posteriormente para Poços. Em dezembro do ano passado, a INB fez a substituição da cobertura dos quatro silos usados para o armazenamento do material radioativo.

A licença do Ibama autoriza que a INB dê início efetivo ao restabelecimento das condições naturais da região. Nos últimos 30 anos, pequenas ações de descomissionamento foram tomadas.

“A gente vinha fazendo poucas coisas, mas agora o jogo começou. Espero vender esse material neste ano. E vamos avançar com as outras etapas. Se nós conseguirmos retirar isso de Caldas, já será um sonho”, disse Seixas.

Segundo o presidente da estatal, cerca de R$ 190 milhões já estão previstos no orçamento, para realizar ações de uma primeira etapa, ao longo de 15 anos. “Neste ano, vamos gastar entre R$ 10 milhões e R$ 11 milhões com essas ações, recursos já garantidos em nosso fundo do descomissionamento.”

A exploração de urânio no Brasil tem como principal objetivo extrair o material, que é utilizado na produção de combustível para as usinas nucleares de Angra 1 e 2, no Rio de Janeiro. O processo de fabricação inclui uma etapa realizada no Exterior.

Hoje, a produção de urânio nacional está concentrada em Caetité, na Bahia. Em outubro do ano passado, a INB entregou novos estudos para dar andamento ao chamado Projeto Santa Quitéria (PSQ), previsto para ser instalado na pequena Santa Quitéria, cidade cearense de 40 mil habitantes localizada no meio da caatinga, a 200 km de Fortaleza, de onde pretende arrancar do solo 2.300 toneladas de concentrado de urânio por ano.

Fonte: Jornal Estado de Minas

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