sábado, novembro 23, 2024
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Devoção, fé e tradição marcam último dia da Festa de São Benedito

Procissão e missa encerram programação cultural e religiosa dos festejos centenários

Seu Ditinho, aos 88 anos, é o capitão do Terno de Congo de Nossa Senhora do Rosário

“A família inteira é devota de São Benedito, esse grupo de Congo a metade é neto e bisneto. Chegou a hora da procissão, todo ano nós estamos aqui”. Assim, o capitão do Terno de Congo de Nossa Senhora do Rosário, Benedito Luiz da Costa, de 88 anos, o popular e querido Seu Ditinho, fala da devoção a São Benedito, de quem herdou inclusive o nome. Tradição passada de geração em geração, a fé no Santo Negro é celebrada por meio da Congada, especialmente na Procissão Solene de 13 de maio, que fecha a programação cultural da centenária Festa de São Benedito em Poços de Caldas.

Com apenas 19 anos, a bisneta de Seu Ditinho, Eduarda Carimbá, desde criança acompanha a família no Terno de Congo de Nossa Senhora do Rosário e, em 2023, participou pela primeira vez dos festejos como presidente da Associação dos Ternos de Congos e Caiapós de Poços de Caldas. “Fiquei muito feliz com a volta da festa. Pra nós é muito bom sentir o carinho e o reconhecimento que a população tem com os Congados e com os Caiapós. Graças a Deus, deu tudo certo e nossa procissão foi a coisa mais linda. Estamos muito realizados e, se Deus e São Benedito quiserem, estaremos o ano que vem juntos de novo para fazer essa festa linda”, celebrou.

A programação religiosa do último dia da festa teve início já na manhã do último sábado, com a missa festiva. “É uma missa especial porque as canções são cantadas e tocadas pelos Ternos de Congos”, informou o embaixador do Terno de Congo de São Benedito, Ailton Santana (Mestre Bucha).

Presidida pelo Bispo da Diocese de Guaxupé, Dom José Lanza Neto, a missa foi realizada no pátio da Capela de São Benedito. Dom José Lanza destacou que a manifestação não é só religiosa, mas também cultural e está na alma do nosso povo, especialmente em Poços de Caldas. “É um momento importante cultural e religioso, de celebração, de fraternidade. Celebrar São Benedito é celebrar um grande santo da igreja, muito popular”, ressaltou. “Nesse dia 13, nós celebramos a devoção popular a São Benedito, que viveu intensamente a proposta de Jesus e, por isso, atrai cristãos de hoje, de ontem e de sempre”, destacou o Padre José Augusto da Silva, pároco da Igreja Nossa Senhora Aparecida.

O 13 de maio é o dia solene da Festa de São Benedito, quando sacerdotes, congadeiros e devotos se unem nas celebrações, tanto na procissão quanto na missa. “Nosso Congo de São Benedito é um dos mais antigos e tenho muita honra e peço licença para carregar esta bandeira, em nome da nossa querida Dona Mercedes, para saudar o nosso Santo e resgatar a nossa cultura”, comentou a bandeireira do Terno de São Benedito, Lúcia Vera de Lima, que é Mestra de Cultura Popular pelo Ministério da Cultura.

Procissão

De volta ao período da tarde, a procissão saiu da Capela de São Benedito, aberta pelos grupos de Caiapós do São José e da Vila Cruz, que representam os indígenas, com suas saias de capim, rostos pintados e espadas de pau, seguidos pelo Terno de Congo de São Benedito, Terno de Nossa Senhora do Rosário, Terno de Santa Efigênia, Terno Nossa Senhora do Carmo, Terno de Santa Bárbara e São Gerônimo e Terno de Nossa Senhora da Saúde. Depois dos grupos tradicionais, seguiram os andores de Santa Efigênia (ou Ifigênia), santa negra responsável pela difusão do Cristianismo na África, Nossa Senhora do Rosário, e o grande homenageado do dia, São Benedito, ricamente ornado de flores.

Tradição
Tradição centenária na cidade de Poços de Caldas, os Ternos de Congos são a expressão máxima da Festa de São Benedito, realizada ao menos desde 1904, data do primeiro registro preservado que garante a sua execução, ainda na então Freguesia da Nossa Senhora da Saúde das Águas de Caldas. A festa de São Benedito é registrada como bem imaterial desde 2020.

Os tambores reverenciam a fé e a devoção do povo ao Santo Negro, marca do sincretismo tão característico da cultura mineira. Segundo o Dossiê de Registro do Bem Imaterial Festa de São Benedito de Poços de Caldas, elaborado pela Divisão de Patrimônio Construído e Tombamento, “o Congado é uma dança que lembra a coroação do Rei Congo e da Rainha Ginga de Angola, acompanhado de um cortejo compassado, levantamento de mastros e música. Esta manifestação cultural e religiosa, de influência africana, ocorre em algumas regiões do Brasil, tendo por temas a devoção a São Benedito e o encontro da imagem de Nossa Senhora do Rosário”. Em Poços de Caldas, a tradição está ligada também aos Grupos de Caiapós, irmanados aos negros.

A festa de São Benedito é registrada como bem imaterial de Poços de Caldas desde 2020. Para o secretário municipal de Cultura, Gustavo Dutra, o Dia da Festa de São Benedito é o momento de celebrar, de preservar e valorizar as manifestações de fé e devoção, tão importantes na formação do povo poços-caldense.

A Festa de São Benedito é encerrada no dia 13 de maio, feriado municipal, por conta da data de aniversário do Coronel Agostinho José da Costa Junqueira, nascido a 13 de maio de 1846. Ele fez a doação do terreno onde foi construída a Igreja de São Benedito, com a ajuda de fiéis, em agradecimento a uma graça alcançada por intermédio do Santo. Coronel Agostinho Junqueira empresta seu nome à praça em frente à igreja.

De acordo com a pesquisadora e escritora Maria José de Souza, em “Reinado e Poder no Sul das Minas Gerais” (2015, p.94) “o dia 13 de Maio foi escolhido para a Festa por ser o dia do aniversário do coronel Agostinho, nascido em 13 de maio de 1846, conforme o senhor Mário Benedicto Costa, neto e filho de congadeiros, em entrevista realizada no ano de 1976, ao afirmar que ele acompanhava o grupo todos os anos até a residência do coronel, onde, hoje, está localizado o Museu Histórico e Geográfico; ali eles recebiam um farto almoço e dançavam a tarde toda até a hora de subir para a procissão, no que eram acompanhados por aquele benemérito”. (SOUZA, Maria José de. Reinado e Poder no Sul das Minas Gerais. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2015, p. 94)

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